Porque os caminhos se alteram

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Truman the True Man


Estou aproveitando um pequeno tempo livre à noite para rever grandes filmes, pois sinto uma obrigação em assisti-los periodicamente, a luz de uma mente transitória.

Ontem assisti o genial “O Show de Truman”, um drama de 1998 indicado para 3 Oscars, estrelado por Jim Carrey, Ed Harris e a maravilhosa Laura Linney. Neste filme Carrey é Truman Burbank, o protagonista de um reality show global. Truman foi filmado 24 horas por dia desde que era um feto. Ele foi enclausurado em um grande estúdio, onde o único que de fato não estava atuando era ele. Neste imenso cenário, seu nascimento, seu primeiro beijo, todo seu período na universidade, seu casamento, toda sua vida foi transmitida instantaneamente, ao vivo, para todo o mundo. Truman é o único manipulado, que não tem conhecimento do show de TV ou do mundo fora daquela ilha.



No inicio do filme os créditos apresentam o ator principal, Truman Burbank as himself, ou seja, Truman como ele mesmo. Essa fusão da realidade e ficção, como se o filme fosse um universo paralelo real é vista em outros filmes de Jim Carrey, como no dramático “O brilho eterno de uma mente sem lembranças” “the eternal sunshine of a spotless mind”.

Starring Truman as himself.

O que acaba ocorrendo é que Truman se torna insatisfeito com suas condições de vida, sociais, profissionais, amorosas (o fato de todos os outros estarem atuando parece pouco relevante), e essa insatisfação faz com que ele perceba que há padrões de comportamento, cenas prontas e eventos periódicos na sociedade onde vive, que dependem unicamente dele. Notando a conspiração, ele passa a agir de maneira imprevisível, desmascarando ainda mais os atores ao seu redor. O diretor do show de TV, que controla todos os atores e por muito tempo determinara a vida de Truman, tenta incluir outros elementos, a fim de emocionar e controlar o protagonista, que conhecendo a intenção dos atores, consegue se distanciar das influências e destruí-las.

Ed Harris como Christof, o dono e controlador do reality show derrotado. E você achou que o Pedro Bial não tinha se inspirado em ninguém?


A história de Truman tem muito a ver com alguns questionamentos atuais, tais quais:

Devemos nos render à ilusão da cultura popular, fabricada pela mídia?

[Christof: Nos entediamos assistindo emoções fabricadas por atores. Nos cansamos de pirotecnia e efeitos especiais. Enquanto o universo que ele habita é, em alguns aspectos forjado, não há nada de falso em Truman. Sem scripts, sem falas prontas. Não é sempre Shakespare, mas é genuíno; é uma vida.]

Estaríamos nós tão imersos no universo midiático, a ponto de perder nosso senso crítico?

[Christof: Truman acredita na realidade que lhe é apresentada]

Em resumo, esse é um filme que eu definitivamente recomendo. Não é apenas uma sátira à televisão ou outras formas de mídia, é uma crítica ao espectador, que aceita esse sistema, se emociona com o show e o torna possível, e também aquele manipulado, que é uma pessoa tão ordinária quanto Truman, e muitas vezes se sente como ele se sentiu, entretanto é totalmente incapaz de livrar-se de sua rotina, de seu emprego, de sua esposa e de outras condicionalidades.


Laura Linney interpreta a esposa fictícia de Truman. Se a história fosse real, a atriz cobraria um cachê extra pelas transas? Truman seria mesmo a vítima se não pagasse nada pelos serviços?

Não é tão antigo quanto Sêneca, mas é tão atual quanto.
Abraços

Mais informações em: IMDb, Movies101, TransparencyNow

Um comentário:

  1. Assisti faz tempo, muito om mesmo. Só não sei até onde o fato dele ter percebido toda a farsa sera possível no mundo real, já que como você disse, muitas pessoas (telespectadores) são também manipuladas, e vivem a vida inteira sem se dar conta disso.

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